A Economia Oculta na Construção Civil: Por que a Manutenção é o Fator Mais Caro de uma Obra?

A Ilusão do Custo de Construção

Jenifer Diniz

9/4/20253 min read

Quando se fala em orçamento de obras, a maioria dos profissionais e investidores olha para a fase de construção como o momento de maior impacto financeiro. Afinal, é nessa etapa que entram os grandes gastos: materiais, mão de obra, equipamentos e gestão. Porém, essa é apenas a ponta do iceberg.

O custo real de uma edificação revela-se ao longo do tempo, durante sua operação e manutenção. Estudos internacionais indicam que até 80% do custo total de um ativo ao longo de sua vida útil está nesta fase, enquanto apenas 20% está concentrado na construção.

Ou seja: o momento mais caro de um empreendimento não é quando ele está sendo construído, mas quando já está pronto, funcionando e exigindo cuidados constantes para se manter seguro, eficiente e valorizado.planejamento inteligente?”

Por que a Manutenção é Tão Cara?

Manter um edifício operacional não é apenas “consertar o que quebra”. É gerenciar sistemas elétricos, hidráulicos, climatização, acabamentos, estruturas, segurança e automação. É lidar com desgaste natural, obsolescência tecnológica e até mudanças na legislação.

Além disso, muitos gestores ainda seguem a cultura de “arrumar quando quebra”, apostando na manutenção corretiva – aquela feita apenas em situações de emergência. O problema?

  • É significativamente mais cara, pois exige peças de reposição urgentes, deslocamento rápido de equipes e muitas vezes paralisação de áreas críticas.

  • Pode gerar efeito cascata, em que uma falha simples compromete outros sistemas, ampliando os custos.

  • Reduz a vida útil dos equipamentos, exigindo substituições mais rápidas e onerosas.

Manutenção Preventiva: Economia Inteligente

A manutenção preventiva é a chave para transformar gastos inesperados em investimentos previsíveis. Um plano bem estruturado pode:

  • Dobrar a vida útil de sistemas complexos, como os de ar-condicionado industrial.

  • Reduzir em até 30% os custos anuais de operação.

  • Garantir ambientes mais seguros, confortáveis e valorizados para usuários e investidores.

BIM 7D: O Aliado da Eficiência

A verdadeira revolução na gestão de ativos chegou com o BIM 7D – uma das dimensões mais avançadas da modelagem da informação da construção.

Enquanto as primeiras dimensões do BIM cuidam de projeto (3D), tempo (4D), custo (5D) e sustentabilidade (6D), o 7D foca em operação e manutenção.

Com ele, cada componente do edifício passa a ter uma “identidade digital” completa:

  • Data de instalação;

  • Garantias;

  • Especificações técnicas;

  • Histórico de manutenção;

  • Ciclo de vida previsto.

Tudo isso em um gêmeo digital, que permite prever falhas, planejar trocas, otimizar o consumo de energia e reduzir drasticamente custos de longo prazo.

Impactos Diretos no Ciclo de Vida do Empreendimento

Previsibilidade Financeira

  • Garante controle sobre despesas futuras, evitando surpresas orçamentárias.

  • Permite criar fundos de manutenção anuais proporcionais à realidade do ativo.

Valorização do Patrimônio

  • Empreendimentos bem mantidos têm valor de mercado até 20% maior do que os negligenciados.

Segurança e Conformidade

  • Reduz riscos jurídicos e operacionais, já que todas as inspeções e reparos são documentados.

Eficiência Operacional

  • Elimina desperdícios de tempo e recursos buscando informações em arquivos físicos.

  • Permite que equipes trabalhem de forma estratégica e não apenas reativa.

Norma ISO 19650 e COBie: O Futuro da Gestão de Ativos

Para que o BIM 7D entregue todo o seu potencial, é preciso planejá-lo desde a concepção do projeto, e não apenas na entrega da obra.

A ISO 19650, norma internacional para gestão da informação em construção, exige que requisitos de operação sejam definidos desde o início, garantindo integração total entre projeto, construção e gestão.

O COBie (Construction Operations Building Information Exchange) complementa essa abordagem, padronizando a exportação de dados do modelo para sistemas de gerenciamento, sem perda de informações críticas.

Tecnologias Complementares: Scanners, Drones e IA

Para edificações já existentes, a tecnologia de laser scanning cria uma “nuvem de pontos” digital, permitindo a modelagem BIM mesmo de ativos antigos.

Drones equipados com câmeras de alta precisão já realizam inspeções em locais de difícil acesso, reduzindo riscos à vida humana e permitindo detecção precoce de falhas estruturais.

Em paralelo, inteligência artificial começa a ser aplicada para prever necessidades de manutenção com base no histórico de uso, ambiente e desempenho do ativo.

O Que Isso Significa para Construtores e Investidores?

Ignorar a fase de operação é perder dinheiro todos os dias. Com o avanço da tecnologia, a gestão de ativos deixou de ser opcional e passou a ser a chave para competitividade e lucratividade de longo prazo.

“Construir bem é apenas o primeiro passo. Manter com inteligência é garantir que o valor do seu investimento cresça, e não se deteriore com o tempo.”

Conclusão: A Verdadeira Economia Está no Futuro

A economia oculta da construção civil não está em reduzir custos de obra, mas em projetar para manter.

Com o BIM 7D, normas internacionais e tecnologias de inspeção avançadas, investidores podem reduzir drasticamente despesas operacionais, aumentar a vida útil de seus ativos e maximizar o retorno financeiro.

Na construção civil moderna, a pergunta já não é mais “quanto custa construir?”, mas sim:

“quanto custa manter – e quanto podemos economizar com planejamento inteligente?”